E mais uma vez eu tinha razão. O olhar dele demonstrou uma certa insegurança em relação ao que iria afirmar.
Eu: Diz o que me queres dizer de uma vez por todas!
Ele: Eu não tenho a certeza se devo dizer isto, remexer no passado e trazê-lo de volta ao presente.
Eu: Já não tenho medo disso, e sabes porquê? Porque é impossível relembrar ainda mais o passado quando estou contigo. O exemplo de ontem …
Ele: Pára! Esquece o ontem, vive o hoje.
Eu: Sabes o quanto é difícil, não sabes?
Ele: Sei. Também te vi partir, e essa imagem não me sai da cabeça. É do passado …
Eu: Nada comparado ao que eu vejo e revejo todos os dias.
Ele: Pior.
Eu: Pior, J.? Pior do que te ver agarrado a ela? Pior do que te ver a falar dela e com ela nas minhas costas? Pior do que ser traída, ter sinais disso todos os dias e não querer admitir? Pior do que ter de acreditar na desculpa que lhe deste? Desculpa essa que me destruiu.
Ele: Que desculpa é que eu lhe dei?
Eu: Ai não sabes? Daquela vez que …
Ele: Ah já sei, desculpa.
Eu: Desculpa? Alguém disse que o que está feito está feito e não pode ser desfeito.
Ele: São imagens permanentes para ambos, mas por favor, perdoa-me. Só te peço isso!
Eu: Isso é demasiado J.
Ele: Por favor. Eu não aguento mais estar nesta angústia.
Eu: E eu? Achas que eu aguento afogar-me todos os dias em imagens. E o pior de tudo isto é que eu ainda te amo. Não sei como é possível mas é verdade. Amo-te como nunca amei ninguém. Acho-me estúpida, por isso. Quem não acha?
(levanto-me)
Ele: Por favor, não vás!
Eu: Porque?
Ele: Porque te amo.
Eu: Amas como das outras vezes? Amas quando não tens mais ninguém para amar? Amar é tudo menos traição. Eu odeio-te!
Ele: Odeias?
Eu: Não sejas parvo J.
Ele: Acredita em mim, uma vez, por favor!
Eu: O meu erro foi ter acreditado em ti. Disseste o mesmo da outra vez.
Ele: Desta vez é diferente. Eu juro que é.
Eu: Os teus juramentos não valem nada.
Ele: Não?
Eu: Vou embora.
Ele: Não vais nada. Conheço-te suficientemente bem para saber que se fores embora vais passar o resto do dia a remoer nesta conversa.
Eu: Que bom para ti.
Ele: Por favor, fica!
Eu: Não fico, mas tu também não. Vem comigo.
Descemos os dois do telhado e fomos para o meu quarto. Sentei-me em frente ao PC onde se encontrava a máquina a carregar. Abri a pasta de imagens e deixei-o sentar-se a ver todas aquelas recordações.
Mal abriu a primeira imagem derramou uma lágrima, coisa que não esperava.
Ele: Somos nós …
Eu: Sim. Quando éramos felizes. Quando a minha inocência predominava, lembraste?
Ele. Claro que lembro … como me esqueceria?
Eu: Eu tentei esquecer tudo isso.
Ele: Eu nunca quis esquecer.
Foi vendo e revendo cada imagem, cada lembrança dos dias efémeros. Passaram-se horas e ele via-as vezes sem fim. Quando decidiu parar disse:
Ele: São estas minuciosas coisas que fortalecem o amor que sinto por ti.
Eu: Tu não sentes nada por mim.
Ele: Pára miúda. Conheces-me bem e sabes que eu desisto facilmente das coisas. Sabes que ao primeiro obstáculo deixo tudo para trás. E quantos já apareceram? Eu quero-te. Desta vez quero mesmo. Eu juro que sim.
Eu: Já te disse que …
Ele: Sim, os meus juramentos não valem de nada, mas acredita. Desta vez não te vou desiludir!
Eu: Não sei J.
Ele: Eu amo-te, tu amas-me … não percebo!
Eu: Não é assim tão simples.
Ele: Pois não, o amor é complexo.
Eu: É.
Ele. Nós temos tudo para o tornar bem mais real do que uma fantasia.
Houve outra aproximação, outro beijo. Mais intenso e seguro. Com força de razão e convencido de que nada o desmoronaria.
Senti uma necessidade enorme de o abraçar, e fi-lo. Abracei-o com toda a força que tinha. Ele fez o mesmo. Esmagamos todas as memórias que teimavam em estragar o momento.
Eu: Sabes que não vai haver o ‘para sempre’ não sabes?
Ele: Enquanto estiver nos teus braços o ‘para sempre’ é breve.
Eu: É?
Ele: Sim. Mas deixa-me estar, estou tão bem. Já te disse que te amo?
Eu: Muitas vezes.
Ele: Mais uma faz mal?
Eu: Muito mal … iludes-me demasiado.
Ele: Não comeces.
Eu: Sabes que sou assim. Estou feliz, nem que seja por instantes.
Ele: Amo-te!
Eu: Odeio-te!
Ele: Assim tanto?
Eu: Imenso meu amor.
Esta história não verídica continua no próximo post (: