Parte 2
Porque não me limitei a sair dali para fora? Ah, sim, porque sou uma idiota
Depois de lhe ter enviado aquela carta ansiei pela visita dele. Passaram-se meses e meses e a esperança começou a desvanecer-se. Não se foi embora, apenas fracassou.
Uma noite subi ao telhado, novamente e jurei a mim mesma que o iria esquecer. Devem estar a achar estranho eu ter escolhido o telhado, mas não é! Escolhi-o porque foi naquele nosso refúgio que nos comprometemos e seria naquele refúgio que o ‘nós’ iria deixar de existir. Ou talvez fosse.
No dia seguinte acordei como já não acordava há cinco meses atrás e fiz o habitual. Tratei da minha higiene e fui buscar a correspondência, mas não, não ia com expectativas de encontrar uma outra carta. Deixei o correio em cima da mesa da cozinha, corri para o quarto e procurei a minha guitarra. Já não a usava há algum tempo. Fui para o telhado tocar … estava feliz! Pelos menos algo me indicava que sim. Pareceu-me que a felicidade me bateu à porta de uma forma inexplicável e instantânea. Só queria que viesse para ficar. Toquei e reflecti ... e quando dei por mim já era tarde.
Preparava-me para entrar em casa quando ouvi um ruído e olhei para trás, com máxima rapidez.
Era apenas a Mia, a minha gata, que tinha partido um vaso da minha mãe. Correu para junto de mim após o estrondo, de tão assustada que estava e eu peguei nela. Olhou para mim só da maneira que ela sabe olhar e os seus olhos aclamavam por perdão. Quem será que me fazia lembrar... Larguei-a de repente sem noção do que estava a fazer e toda a minha felicidade escapuliu-me. ‘Agora até uma gata faz com que me lembre de ti’ - pensei. Mas ... como é que uma gata partia um vaso que estava no chão? Fez-se luz na minha cabeça. Corri por entre as muitas árvores da floresta densa e, numa clareira vejo alguém tropeçar numa pedra. Atrapalhado tenta levantar-se mas não dei a mínima hipótese de o fazer. Com uma voz doce afirmou que estava perdido e entretanto paralisei. Reconhecia aquela voz, era-me tão familiar e impossível de esquecer. Com a minha ajuda ele levantou-se e a pouca luz da lua iluminou o seu rosto … era ele! Iniciámos, melhor ... ele iniciou uma conversa, com um ar um tanto embaraçoso enquanto eu continuava boquiaberta.
Ele: ‘Huum, olá?’
Eu: …
Ele: ‘Desculpa se te assustei, não era minha intenção. Não aguentei esperar até adquirir coragem para vir, porque as saudades são imensas. Desculpa.’
Eu: …
Ele. ‘Não dizes nada? Estás a deixar-me ainda mais nervoso!
Eu: Parece que é mais fácil expressares-te por palavras.
Ele: ‘Não sei. Talvez não.’
Eu: ‘Queres dizer-me alguma coisa?’
Ele: ‘Podemos ir para o nosso refúgio?’
Acenei um ‘sim’, caminhámos até minha casa e subimos ao telhado. Sentámos-nos lado a lado e olhámos o céu daquela fantástica e quente noite. Mas a tensão permanecia no ar teimando em ficar, o melhor era que a sua intensidade diminuía aos poucos e poucos.
Gentilmente pegou-me na mão e eu olhei para ele embaraçada e eufórica ao mesmo tempo. O seu rosto estava encantador como sempre ficava quando era iluminado pela luz das estrelas que pareciam brilhar cada vez mais. Mas naquela noite a lua estava só ... as estrelas foram para o outro lado do céu sem terem pena da lua. Enquanto eu tirava conclusões acerca da maldade delas ele desviou o olhar do céu ... e olhou para mim dizendo:
Gentilmente pegou-me na mão e eu olhei para ele embaraçada e eufórica ao mesmo tempo. O seu rosto estava encantador como sempre ficava quando era iluminado pela luz das estrelas que pareciam brilhar cada vez mais. Mas naquela noite a lua estava só ... as estrelas foram para o outro lado do céu sem terem pena da lua. Enquanto eu tirava conclusões acerca da maldade delas ele desviou o olhar do céu ... e olhou para mim dizendo:
Ele: ‘Tenho de te dizer uma coisa.’
Eu: ‘Diz-me!’
Ele: ‘Eu amo-te!’
Eu: ‘ Eu também te amo … ‘
Naquela noite eu não era a única a sentir a euforia dentro de mim. Os pequenos animais da floresta chilreavam e cantavam as suas músicas tentando embelezar o ambiente que nos rodeava. Comentámos isso por longos minutos até que ele se aproximou e os seus lábios tocaram os meus, muito suavemente desencadeando um beijo longo e sentido.
Enquanto isso acontecia, quando menos esperava as imagens do passado assaltaram-me o coração, recordando os vestígios deixados anteriormente. Estava a ter uma dor insuportável e foi o suficiente para eu o afastar. Incrédulo olha para mim e pergunta:
Enquanto isso acontecia, quando menos esperava as imagens do passado assaltaram-me o coração, recordando os vestígios deixados anteriormente. Estava a ter uma dor insuportável e foi o suficiente para eu o afastar. Incrédulo olha para mim e pergunta:
Ele: 'Eu pensava que querias isto. Pensava que me amavas como disseste na carta. Então? Não me amas?’
Eu: ‘Não! Eu não te amo. Fizeste-me sofrer bastante e parece que só queres o teu conforto neste momento. Sabes, as memórias do passado assaltaram-me! Não, não te amo.’
Desci, entrei em casa e fui para o meu quarto. Atirei-me para cima da cama inundando-a de lágrimas de arrependimento. 'Eu não tive culpa, juro que não!' Tentava dizer em silêncio por entre lágrimas mas as imagens contrariavam-me causando-me uma dor efémera mas que parecia nunca mais acabar. Elas entranharam-se no meu coração e deixaram-me fraca, sem defesas e imóvel de volta ao passado.
História não verídica e inacabada.
Prometo continuação no próximo post.